Em
outros textos já mostrei que embora a Bíblia seja a Palavra de Deus, muito
do que nela está escrito tem caráter transitório e circunstancial,
especialmente no que se refere ao Antigo Testamento. E vimos que só em Jesus nós
temos a plenitude da revelação de Deus, a qual nós denominamos de Evangelho.
Muitos
cristãos não entendem que a Lei de Moisés foi cumprida por Jesus. Por não
entenderem isso, ficam a discutir quais mandamentos da Lei continuam e quais
foram abolidos por Ele. Mas a verdade é que não há como a Lei estar em vigor em
partes. Ou ela foi aniquilada na Cruz como um todo ou não foi.
Da
mesma forma que a Lei foi selada por Moisés conjuntamente como uma só (cf. Ex.
24.8), ela só poderia ser abolida na sua totalidade. É por isso que Paulo
escreve: “se vos deixardes circuncidar,
Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa
circuncidar que está obrigado a guardar toda
a lei.” (Gl 5.2-3). O que ele está dizendo não se restringe apenas a
circuncisão, mas a qualquer mandamento da Lei. Se alguma pessoa quiser fazer
valer sua salvação pela guarda de qualquer mandamento da Lei, este precisará
cumpri-la toda. Porém, quando o homem comum percebe a quantidade e meticulosidade dos
mandamentos da Lei unidos a força da nossa carne pecaminosa que nos joga contra eles,
este passa a perceber que é impossível que alguém herde o céu por merecimento
próprio.
Graças
a Deus por Jesus Cristo, que cumpriu em nosso lugar toda essa perfeição requerida
pela Lei, pois nunca poderia ser cumprida pelo homem!
“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela
carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho... a fim de que o preceito da
lei se cumprisse em nós” (Rm 8.3-4).
Assim,
todo e qualquer mandamento que você possa imaginar que exista foi cumprido por
Ele. Para constatarmos isso, vejamos a vida de Jesus em contraste com os dez
mandamentos contidos em Êxodo 20 – que funcionam como uma espécie de resumo de
toda a Lei, pois não teríamos tempo de analisá-la de forma completa e minuciosa.
Não
terás outros deuses: os dois primeiros mandamentos se
referem à idolatria. Em Mateus 4.10 Jesus foi tentado a adorar outra entidade,
mas resistiu e disse: “só a teu Deus adorarás”;
Nome
de Deus em vão: Jesus quando foi tentado a clamar a
Deus em vão em Mateus 4.7, respondeu: “não tentarás o Senhor, teu Deus”;
Sábado:
Jesus sempre cumpria a guarda do sábado, mas muitas vezes o “violava” para
fazer o bem, pois conforme sua interpretação o amor é maior que a Lei e fazer o
bem em dia de sábado não era considerado por Ele uma violação (cf. Mt 12.12);
Honra
teu pai e tua mãe: em João 2.3-10 Ele obedeceu a sua mãe
ao transformar água em vinho nas bodas de Caná, ainda que essa não fosse sua
ideia original, pois “não era chegada a sua hora”;
Não
matarás: além de Jesus nunca ter matado fisicamente ninguém,
livrou da morte a mulher adúltera de João 8, ressuscitou Lázaro em João 11 e
oferece vida eterna a todos os que se cheguem a Ele em fé;
Não
adulterarás: Jesus nunca casou e, portanto, nunca
cometeu adultério;
Não
furtarás: Jesus nunca furtou nada de ninguém. Ao contrário,
o que tinha distribuía entre os pobres e pagava sempre quando lhe requeriam
impostos (cf. Mt 17.24-27);
Falso
testemunho: Jesus nunca deu falso testemunho. Ao contrário, Ele
é quem foi alvo de várias calúnias ao ponto de Pilatos se admirar de que ainda
assim permanecesse calado (cf. Mt 27.14);
Além
dos mandamentos do decálogo de Êxodo 20, Jesus cumpriu todos os outros
mandamentos da Lei, inclusive desde o seu nascimento:
Circuncisão:
em Lucas 2.21 Ele começou a cumprir a Lei desde o seu nascimento, quando foi
circuncidado ao oitavo dia conforme a determinação de Moisés em Levítico
12.1-3;
Apresentado
no Templo: Posteriormente em Lucas 2.22 Ele foi apresentado
no templo conforme requeria Êxodo 13.12-15 e foram feitos os sacrifícios
conforme Levítico 12.8;
Não
ouve mandamento que Jesus não tenha cumprido. Veja que no começo do seu
ministério Ele disse: “Não penseis que
vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.
Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til
jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” (Mt 5.17-18).
No
final do seu ministério, após sua ressureição, Ele concluiu: “A seguir, Jesus lhes disse: São estas as
palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo
o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (Lc
24.44).
Ele
cumpriu tudo. Aleluia! Não só cumpriu, mas também oferece aos que creem
gratuitamente justificação perante Deus. “Justificados,
pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”
(Rm 5.1).
É
como se a justiça de alguém que nunca quebrou um mandamento sequer da Lei
repousasse sobre nós pela fé. “Mas, ao
que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é
atribuída como justiça.” (Rm 4.5).
No
entanto, o não entendimento dessa verdade é uma situação antiga no
cristianismo, posto que o primeiro concílio da história da igreja foi realizado
para debater esse tema.
A
descrição dessa situação está em Atos 15, mas tentarei resumi-la aqui. O que
acontece é que fariseus que haviam se convertido ao cristianismo estavam
espalhando aos novos convertidos o ensino de que “é necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés” (cf. Atos 15.4). Porém, tendo havido
um forte debate entre eles e Paulo, ambos subiram para a igreja de Jerusalém
com o objetivo de analisar esse assunto juntamente com os demais apóstolos. Ao
chegarem ao local, levantou-se grande debate, mas Pedro concluiu dizendo: “por que tentais a Deus, pondo sobre a
cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós?
Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus” (cf. Atos
15.10-11). Após isso, sabiamente Tiago levantou-se e argumentou que nas cidades
em que houvessem muitos judeus, dever-se-iam os cristãos absterem-se das “contaminações dos ídolos, bem como das
relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (cf.
Atos 15.20).
Pelo
fato dessas práticas serem tidas como uma grande afronta aos judeus, Tiago
entendia que seria bom que os crentes abrissem mão dessa liberdade para que
isso não se constituísse numa barreira para a pregação do Evangelho a eles –
esse tema é mais amplamente apresentado no texto "Usos e Costumes".
Agora
que entendemos que a Lei foi cumprida por Cristo e que o cristão não precisa da
muleta de Moisés para caminhar – posto estarmos num caminho sobremodo excelente
– a pergunta que paira é: por que a Lei foi dada? Sendo Jesus melhor, por que ele
não veio logo no começo da história?
Paulo
nos dá algumas pistas acerca de qual foi a necessidade da lei mosaica ter vindo
antes de Jesus: 1) era um tutor; 2) sombra do que havia de vir; 3) foi
adicionada por causa das transgressões; 4) veio para que avultasse a ofensa.
1 – ERA UM TUTOR
Um
tutor é um cuidador, que geralmente acompanha a criança até que ela esteja
formada e com uma consciência capaz de cuidar de si mesma. É a um tutor que
Paulo compara a Lei, e os judeus do passado são comparados a crianças que
precisavam amadurecer a consciência antes de receber a mensagem plena da fé no
Evangelho.
“Digo,
pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de
escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até
ao tempo predeterminado pelo pai. Assim, também nós, quando éramos menores,
estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo; vindo, porém, a
plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção
de filhos.” (Gálatas 4.1-5).
Um
dos principais objetivos da Lei era conscientizar o povo acerca de quem Deus
era e o que Ele requeria do seu povo. Esse sentido paidagogicus (pedagogo, do grego) da Lei pode ser observado no fato
de existir um ensino infiltrado por
trás de cada mandamento da Lei. Vejamos alguns:
Em
Dt 22.11 diz “Não te vestirás de estofos
de lã e linho juntamente”. A preocupação de Deus não era qual o tipo de
roupa que as pessoas usavam, mas que através desse mandamento o povo judeu
passasse a entender que não é boa a mistura de coisas tão distintas – a lã tem
origem animal e o linho tem origem vegetal. O objetivo era fazer o povo de Deus
entender que não deveriam mesclar práticas boas com práticas perversas que sejam
completamente diferentes da essência de Deus. Paulo reafirmou esse princípio
quando disse ser impossível haver união da luz com as trevas em 2 Coríntios
6.14.
Quando
Deus proíbe de forma tão severa alguém comer carne com sangue em Levítico
17.10, Ele na verdade está querendo ensinar o povo o valor que o sangue tem,
pois nele está a vida (vs. 11) e seria através de um derramamento futuro de
sangue (sangue de Cristo) que a vida deles seria salva. Por isso muitos judeus
se escandalizavam quando Jesus dizia: “Quem
comer a minha carne e beber o meu sangue
permanece em mim, e eu, nele.” (João 6.56).
Quando
Deus instituiu a entrega do dízimo para o sustento do levita, órfão e a viúva
em Dt 26.12, Ele queria exercitar a generosidade na consciência dos judeus em
relação a obra do Senhor (levitas) e em relação aos necessitados (órfãos e
viúvas). Embora o letrismo dos 10% tenha caducado juntamente com os demais
mandamentos da Lei, o princípio de generosidade livre em relação a esses temas
continua e foi diversas vezes reafirmado por Jesus e os apóstolos.
O
próprio mandamento da circuncisão que foi dado a Abraão em Gênesis 17.10 tinha
como objetivo ensinar que para alguém estar pactuado com Deus, este precisaria
despojar da sua carne (significando os desejos carnais) e passar a andar no Espírito.
Foi isso o que Paulo disse “Nele, também
fostes circuncidados, não por intermédio
de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de
Cristo” (Cl 2.11).
Paulo
confirmou esse tipo de interpretação dos mandamentos do Antigo Testamento quando
diz em 1 Coríntios 9.9-11: “Porque na lei
de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é
com bois que Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Se nós
vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens
materiais?”. Assim, vemos que havia um princípio por trás do mandamento
relacionado aos bois que Deus queria que fosse discernido. Isto é, os
trabalhadores do Reino têm direito de viverem do Reino se assim quiserem. Ou seja, veja que o "mandamento seco" sempre trazia um ensino infiltrado.
Em
Romanos 7.6 Paulo fala que a letra do mandamento caducou, esclerosou, caiu em
desuso. Mas, conforme foi visto, os princípios por trás deles são eternos. Por
isso ele diz que Jesus “aboliu, na sua
carne, a lei dos mandamentos na forma de
ordenanças” (Ef 2.15). Isso significa que as ordenanças da Lei na forma
letrista não tem mais força sobre nós que estamos em Cristo, pois nele nós
devemos ter a consciência amadurecida nos princípios eternos de Deus que partem
do amor.
Por
exemplo, baseado no princípio eterno da justiça Divina, ainda hoje o mandamento
“não matarás” se aplica. No entanto, se aplica não porque a Lei ainda tenha
força em nossos dias, mas porque o princípio eterno da justiça de Deus nos leva
a aplicar esse mandamento em qualquer época, não importa se anteriormente ou
posteriormente à Lei ter sido dada.
No
Novo Testamento nós encontramos o mandamento “saudai-vos com ósculo santo” (cf. 1 Co 16.20), que nada mais é que
uma aplicação circunstancial do princípio do amor – pois era uma forma de
mostrar respeito e amor pelos irmãos. Em nosso contexto a aplicação desse
princípio seria um aperto de mão ou um abraço, no máximo. Mas a ordenança
letrista do ósculo não tem mais aplicabilidade em nossos dias.
Portanto,
a letra do mandamento seco caducou, mas os princípios ficam porque sempre
existiram por serem a essência do próprio caráter de Deus, e foi para enraizar
esses princípios na consciência dos judeus que os mandamentos pedagógico-circunstanciais
da Lei vieram antes da manifestação de Jesus na plenitude dos tempos.
2 – SOMBRAS
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem
real das coisas” (Hb 10.1).
Há ainda outro tipo de fator conscientizador
que pode ser encontrado na Lei: os contidos nos cerimoniais, ritos, e elementos
do templo. Esses cerimoniais serviam para amadurecer na consciência do povo
tudo aquilo que Jesus representaria no que se refere à redenção deles. Portanto,
além da Lei ser um tutor nos guiando e ensinando por meio de mandamentos
transitórios aquilo que Deus requer de nós, a lei também ensinava por meio de
sombras a plenitude daquilo que Jesus seria para o mundo.
Os sacrifícios de animais, por exemplo,
prefiguravam o sacrifício de Jesus por nós na cruz. O sacrifício pelos pecados
dos sacerdotes, pelos pecados do povo, por pecados de ignorância, pecados
voluntários e involuntários, por sacrilégio, e todos os outros sacrifícios descritos
na Lei eram sombras do sacrifício real que haveria de vir em Jesus.
O propiciatório descrito em Êxodo 25.17-22
era um elemento que fazia com que Deus ficasse propício a perdoar os pecados do
povo. Esse objeto era uma representação daquilo que Jesus seria por nós, pois “ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos
próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.” (1 João 2.2). Só Jesus torna
Deus propício a nos perdoar!
Quando
Salomão inaugurou o templo, ele pediu ao Senhor que todos aqueles que fizessem
súplicas de misericórdia e perdão de pecados ao Pai estando dentro do templo
(se estivessem fora de Jerusalém poderiam fazer com o rosto virado para o
templo), que o Senhor aceitasse suas súplicas. Isso nada mais era que uma
prefiguração daquilo que Jesus faria pela humanidade sendo nosso advogado junto
ao Pai em nosso favor (cf. 1 João 2.1). Por isso que Jesus disse: “aqui está quem é maior que o templo.”
(Mateus 12.6).
O
maná era uma espécie de pão que Deus enviou aos israelitas durante toda a sua
peregrinação pelo deserto para alimentá-los. Isso nada mais era que a
representação de Jesus, que disse: “Eu
sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente”
(João 6.51).
O
objetivo imediato do sábado na Lei era dar ao povo um dia de descanso para que
eles pudessem refletir e buscar a face do Senhor sem ter de se preocupar com os
afazeres diários. No entanto, essa realidade também era a prefiguração de um
descanso futuro que os salvos gozariam nos céus, conforme explica Hebreus
4.3-10. Nós já gozamos desse descanso de forma espiritual através de Cristo,
pois “juntamente com ele, [Deus] nos
ressuscitou, e nos fez assentar nos
lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef. 2.6). Assim, embora o sábado
tenha sido cumprido na obra de Cristo, o princípio ainda continua, sendo
extremamente importante nós pararmos em algum momento as atividades laborais
dessa vida para podermos exercitar nosso lado espiritual, ainda que não mais
exista um dia específico para isso.
As
cinco principais festas judaicas descritas em Levítico 23.4-44 também tinham o
papel de amadurecer a consciência do povo acerca da pessoa do Messias que haveria
de vir. De forma resumida podemos verificar: a páscoa ensinava que a ira de
Deus passa por sobre aquele que está protegido pelo sangue do cordeiro,
conforme ocorreu na saída dos judeus da terra do Egito. Prefigurando, assim,
que Jesus é o nosso cordeiro pascal (cf. 1 Co 5.7); o pentecostes era também
conhecido como a festa das primícias que celebrava a primeira colheita do ano
feita no campo dos judeus. Da mesma forma, “Cristo
ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.” (1 Co
15.20); a festa do Dia da Expiação era um dia para levar oferta queimada ao
Senhor para fazer expiação pelos pecados. Jesus expiou, apagou, jogou nas
profundezas do mar os nossos pecados através da sua oferta voluntária na cruz; e
finalmente temos a Festa dos Tabernáculos, que prefigurava Deus tabernaculando
conosco. Este é o significado de Emanuel, Deus conosco na pessoa de Jesus.
Portanto,
meus irmãos, “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou
dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir” (Cl 2.16-17). Em Jesus todos os ritos
e cerimoniais da Lei perderam sua validade, visto que Ele é o cumprimento de
todas essas coisas.
3 – FOI ADICIONADA POR
CAUSA DAS TRANSGRESSÕES
Deus
pretendia fazer de Israel um Estado teocrático – significando que as ordenanças
de Deus regeriam a nação. No entanto, nem todos os de Israel eram de fato
israelitas, pois não seguiam o caminhar de fé conforme seu pai segundo a carne,
Abraão.
Assim,
existiam na nação de Israel os israelitas que eram verdadeiramente salvos e desejavam
seguir a Deus de forma sincera amando o próximo e buscando justiça, mas haviam
os israelitas não-salvos habitando juntamente com eles. Então, a Lei “foi adicionada por causa das transgressões”
(cf. Gl 3.19), para que os salvos e os não-salvos pudessem conviver o mais
harmoniosamente possível entre si.
Essas leis regulavam a convivência social nos
mais diversos setores da sociedade. Por isso existiam leis acerca da propriedade,
leis em relação ao roubo e ao furto, leis em relação aos escravos, leis em
relação aos doentes; enfim, haviam as mais variadas leis reguladoras que
traziam consequências a todos os que as infringiam. “Tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para
transgressores e rebeldes” (1 Tm 1.9).
Após a obra redentora de Cristo, todos os
salvos foram reunidos em um só corpo num sentido espiritual (cf. Ef 2.11-22),
significando que Deus não é mais representado pelo Estado teocrático de Israel,
mas por todos os salvos ao redor do mundo que são descendentes de Abraão
conforme a fé e não conforme a genealogia (cf. Gl 3.7). Portanto, as leis que
regiam esse Estado teocrático perderam a sua validade após a obra de Cristo e
não se aplicam à Igreja.
4 – AVULTASSE A OFENSA
“Sobreveio a lei para que avultasse
a ofensa” (Rm 5.20). Esse é outro motivo pelo qual a Lei foi
dada: deixar mais claro o quanto o homem é transgressor. A Lei é uma espécie de
régua de medir de Deus, que serve para mostrar o quanto o padrão de Deus é
elevado no que se refere ao que Ele requer de santidade.
Com
a Lei o homem entendeu que o que ofende a Deus não é somente matar e roubar,
como a maioria pressupõe. A extensão e minuciosidade da Lei mostra que somos
completamente incapazes de cumpri-la de forma plena, precisando nos entregar em
fé ao único que a cumpriu toda, em nosso lugar, Jesus Cristo.
“Ora, sabemos que tudo o que a lei
diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja
culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras
da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.”
(Romanos 3.19-20).
Assim,
a Lei precisou vir antes de Cristo para que conscientizasse o homem acerca da
sua total depravação, ajudando que a humanidade entendesse que não há outro
meio de salvação que não seja Cristo.
CONCLUSÃO
Vemos,
portanto, que “a lei nos serviu de aio
[condutor] para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por
fé” (cf. Gl 3.24). Se Jesus tivesse vindo antes que essa conscientização
ocorresse, a mensagem do Evangelho não seria assimilada.
Logo,
hoje nós vivemos sob outra Lei – estabelecida pelo nosso novo Sumo Sacerdote,
Jesus Cristo (cf. Hb 5.10). Sabendo que “quando
se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei” (cf. Hb
7.12). Assim, vivemos agora sob a “Lei de
Cristo” (cf. Gl 6.2), que é a mesma “Lei
da liberdade” (cf. Tg 1.25), que nada mais é que a Lei do amor na consciência
do Evangelho.
“Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de
todo aquele que crê” (Romanos 10.4).
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